sexta-feira, 4 de julho de 2008

Amor de mãe


Hoje estivemos a tentar convencer uma mãe a não se preocupar tanto com as filhas. Ridículo não é?

Mas a verdade é que estamos perante uma pessoa completamente deprimida e que prefere dormir sentada no banco de uma sala de espera da urgência de um qualquer hospital do que dormir em casa da filha.
De uma pessoa que mendiga esmola das instituições de apoio.
De uma pessoa que tem casa na aldeia mas não quer ir para lá porque as pessoas da mesma idade só falam em suicídio.
De uma pessoa que nem se lembra a idade que tem.

De uma pessoa amável, educada, meiga.
Derrete o coração de qualquer um.
É justo o que fizemos? Pois, se calhar não. Mas o importante é que demos o nosso melhor para que percebesse que é extremamente prejudicial não se impôr perante as filhas.
Pela sua versão - apenas ouvimos um lado da história - deduzimos que a negligência por parte das filhas impera e no entanto ... No entanto além de a aconselharmos a voltar para a casa da filha (pesando no outro prato da balança o facto de ter de dormir na rua)também reforçamos a necessidade de se afirmar perante elas.
O mais "carinhoso" em relação a esta situação foi ver uma senhora dos seus 60's à nossa frente a chorar e a agradecer, ao mesmo tempo, o que lhe estavamos a dizer. A agradecer o facto de estarmos a ser duras com ela e a chamar a atenção para si e para as suas próprias necessidades.

"Uma simples mulher existe que,
pela imensidão do seu amor,
tem um pouco de Deus,
e pela constância de sua dedicação
tem um pouco de anjo;
que, sendo moça, pensa como uma anciã
e, sendo velha,
age com todas as forças da juventude;
quando ignorante,
melhor que qualquer sábio
desvenda os segredos da natureza,
e, quando sábia,
assume a simplicidade das crianças.

Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos
que ama e, rica, empobrecer-se para que seu
coração não sangre, ferido pelos ingratos.

Forte, entretanto, estremece ao choro duma
criancinha, e fraca, não se altera
com a bravura dos leões.

Viva, não sabemos lhe dar o valor
porque à sua sombra todas as dores se apagam.

Morta, tudo o que somos e tudo que temos
daríamos para vê-la de novo,
e receber um aperto de seus braços
e uma palavra de seus lábios.

Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher,
se não quiserem que ensope de lágrimas este álbum:
porque eu a vi passar no meu caminho.

Quando crecerem seus filhos,
leiam para eles esta página.
Eles lhe cobrirão de beijos a fronte,
e dirão que um pobre viandante,
em troca de suntuosa hospedagem recebida,
aqui deixou para todos o retrato de sua própria MÃE."

D. Ramon Angel Jara - Retrato de mãe

Um comentário:

RAM disse...

Como é que explicamos o inexplicável?
Só quem anda na rua ou se move na periferia profunda da mesma consegue aceitar a realidade sem a tentar justificar ou desculpabilizar!