quarta-feira, 23 de julho de 2008

Até quando ...

... devemos insistir na reabilitação de uma pessoa?
Até que eu, tu ou ele(a) se cansem?
Até à exaustão plena?
Até ...
A questão é simples mas a resposta nem por isso.
Quando tudo fizemos, ou pensamos ter feito para "ajudar" o outro e do lado de lá vemos constantes avanços e retrocessos. Quando as lágrimas e a tristeza são mais frequentes.
Quando finalmente pensamos ter chegado lá ... a queda é ainda maior.
Como lidar com isto tudo? Como gerir as emoções? Como controlar tudo o que queremos dizer ao outro sem o derrubar ainda mais?
Acima de tudo estamos a falar de uma pessoa em todo o seu SER. Com direitos e deveres e com autonomia para uma tomada de decisão.
Se essa decisão for desistir devemos aceitá-la? À partida sim mas fica sempre o e SE ...
Pensem nisso. Pode ser que finalmente surjam respostas.
Fiquem bem.

domingo, 6 de julho de 2008

Desesperança

Nossa ou dele?
Fomos chamadas para ir com urgência a uma pensão onde se encontra alojado um dos nossos meninos, uma vez que ele estava a provocar "estrilho".
Estava completamente alterado e agressivo verbalmente.
Alcoolizado, não se conseguiu levantar da cama.
A dona da pensão contou-nos que entrou na pensão levado por um outro hóspede e que trazia com ele um pacote de vinho.
Ele ... só pedia para o levarem para a rua. Queria ir dormir outra vez na rua!

Estamos a falar de uma pessoa com hábitos etílicos marcados há 17 anos e habituado a dormir num local imundo, fétido e extremamente perigoso.
Era gozado, insultado e mesmo agredido. Por último chegamos mesmo a vê-lo com marcas de pontas de cigarros nas pálpebras. "Foram os putos"- dizia ele.
Usando esta última "deixa" lá conseguimos alojá-lo numa pensão da cidade e passados quase 10 meses de abstinência alcoólica, clausura, aproximação familiar, ilusões e desilusões - voltou a beber. Porquê?
Apenas podemos deduzir. A família não está a tomar as devidas deligências para o ter de volta e no entanto ele só quer estar com eles antes da mãe ser velha demais e morrer. "Antes eu que ela."; "Se ela morre antes de mim eu morro junto."

Depois de muito conversarmos com ele chegamos à conclusão que era em vão. Que ele não nos estava a ouvir, que não queria saber.
Escolhemos ir embora e deixá-lo a dormir. Sabemos hoje, que mais nada havia a fazer na altura mas o desânimo estava patente na nossa conversa.
Sabemos hoje, que ele não se lembra de nada. Absolutamente de nada do que fez e disse.
Sabemos hoje, que o melhor que temos a fazer numa próxima vez (porque vai haver mais) é deixá-lo sozinho no seu quarto a dormir, com os seus fantasmas...

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Amor de mãe


Hoje estivemos a tentar convencer uma mãe a não se preocupar tanto com as filhas. Ridículo não é?

Mas a verdade é que estamos perante uma pessoa completamente deprimida e que prefere dormir sentada no banco de uma sala de espera da urgência de um qualquer hospital do que dormir em casa da filha.
De uma pessoa que mendiga esmola das instituições de apoio.
De uma pessoa que tem casa na aldeia mas não quer ir para lá porque as pessoas da mesma idade só falam em suicídio.
De uma pessoa que nem se lembra a idade que tem.

De uma pessoa amável, educada, meiga.
Derrete o coração de qualquer um.
É justo o que fizemos? Pois, se calhar não. Mas o importante é que demos o nosso melhor para que percebesse que é extremamente prejudicial não se impôr perante as filhas.
Pela sua versão - apenas ouvimos um lado da história - deduzimos que a negligência por parte das filhas impera e no entanto ... No entanto além de a aconselharmos a voltar para a casa da filha (pesando no outro prato da balança o facto de ter de dormir na rua)também reforçamos a necessidade de se afirmar perante elas.
O mais "carinhoso" em relação a esta situação foi ver uma senhora dos seus 60's à nossa frente a chorar e a agradecer, ao mesmo tempo, o que lhe estavamos a dizer. A agradecer o facto de estarmos a ser duras com ela e a chamar a atenção para si e para as suas próprias necessidades.

"Uma simples mulher existe que,
pela imensidão do seu amor,
tem um pouco de Deus,
e pela constância de sua dedicação
tem um pouco de anjo;
que, sendo moça, pensa como uma anciã
e, sendo velha,
age com todas as forças da juventude;
quando ignorante,
melhor que qualquer sábio
desvenda os segredos da natureza,
e, quando sábia,
assume a simplicidade das crianças.

Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos
que ama e, rica, empobrecer-se para que seu
coração não sangre, ferido pelos ingratos.

Forte, entretanto, estremece ao choro duma
criancinha, e fraca, não se altera
com a bravura dos leões.

Viva, não sabemos lhe dar o valor
porque à sua sombra todas as dores se apagam.

Morta, tudo o que somos e tudo que temos
daríamos para vê-la de novo,
e receber um aperto de seus braços
e uma palavra de seus lábios.

Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher,
se não quiserem que ensope de lágrimas este álbum:
porque eu a vi passar no meu caminho.

Quando crecerem seus filhos,
leiam para eles esta página.
Eles lhe cobrirão de beijos a fronte,
e dirão que um pobre viandante,
em troca de suntuosa hospedagem recebida,
aqui deixou para todos o retrato de sua própria MÃE."

D. Ramon Angel Jara - Retrato de mãe