quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Olá e ... Adeus!

Esta é mais uma história simples, como todas as outras, ou talvez não ...
Ontem foi um dia bastante particular. Estive no enterro de uma pessoa que conheci há vários anos, deixei de ter contacto outros tantos e 4 dias após voltar a vê-lo ... vi-o pela última vez.
Quando comecei no mundo do voluntariado tive o prazer de o fazer num projecto fantástico intitulado "Porto Escondido" de Médicos do Mundo Portugal. Privei com centenas de pessoas "escondidas" da realidade de outras tantas.
Tive contacto com muitas que deixaram marcas bem profundas.
Mas a bem da verdade é que nós também deixamos marcas.
Foi o caso desta Pessoa Sem-Abrigo, que o foi mas desde há uns anos não era.
Foi dos primeiros com quem tive contacto e um "osso duro de roer". Estava já há muitos anos na rua e tinha problemas de saúde e consumo de álcool.
Por inúmeras vezes se tentou o início do processo de reinserção social, com várias recaídas. De pensões passou para um lar, mas o lar fechou por falta de condições. Do lar passou para a casa de uma pessoa que lá trabalhava e que o acolheu - a sua nova família.
Durante 5 anos não tive notícias dele a não ser um ex-colega que disse tê-lo visto na rua e que estava bem.
Há 7 dias atrás tive notícias através de um email. A sua nova família fez questão de dar conhecimento da sua situação à equipa com quem tive o prazer de trabalhar, dizendo que ele falava muito de nós.
Estava muito mal. Tinha um cancro em fase terminal e carecia de cuidados paliativos.
Fui vê-lo, com um colega da equipa que tinha integrado. Reconheceu-nos de imediato. Mesmo sem poder falar de modo perceptível deu para perceber que era o mesmo. Exactamente o mesmo, com o mesmo feitio peculiar.
A visita foi curta. O que víamos era complicado de gerir - acredito que para todas as partes.
Despedi-me dele com a sensação que o não voltaria a ver, porque ...
Há dois dias recebi a notícia que morreu. Ontem fui ao funeral.
Um misto de sentimentos. Satisfação porque verifiquei que os últimos anos dele foram muito ricos e ganhou mesmo uma nova FAMÍLIA onde era amado e respeitado.
Tristeza pela família, por ele, por tudo.
Do contacto com os familiares ficaram-me três coisas:
- os seus rostos tristes
- dizerem que ele falava muito de uma Isabel ...
- ter a honra de no final dizer a um deles: Obrigada por terem sido uma família para ela.
Fica a lembrança ...

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